A ILHA DO JOSÉ

A atmosfera de fantasia-realidade de O Conto da Ilha Desconhecida, de José Saramago, é o que inspira o Grupo Danceato em A Ilha do José. Fincado na gramática da dança-teatro, o espetáculo estréia neste domingo (12/11) no Teatro Clara Nunes, em Diadema. Ana Bottosso e o elenco (Cleide Mariano, Cristina Ávila, Douglas Godoi, Jaqueline Batista, Maercio Maia, Orlando Dantas, Renata Boniol, Renato Alves e Talita Oler) assinam a concepção coreográfica.
Premiado com o Nobel de Literatura em 1998, Saramago relata no livro a procura de um homem por uma ilha que não consta nas cartas geográficas. Ele bate à porta do rei a fim de pedir um barco para a viagem. Recheada de personagens que retratam suas funções sociais e de embates que envolvem o status quo, a obra permite variadas interpretações. Uma parábola sobre a concretização de um sonho, um libelo contra a (decretada pelo neoliberalismo) falência das utopias, uma especulação sobre o auto-conhecimento.
Ana fala em “busca da esperança” e “poder de transformação”. “A ilha que ele procurava estava nele mesmo. Hoje em dia as pessoas precisam ter esse poder, a arte faz isso.” Para ela, o tema é pertinente à época em que vivemos: “O País precisa ser transformado e as pessoas, rever coisas, olhá-las de outra maneira”.
O trabalho de criação de A Ilha do José consumiu um ano da companhia. “A Cristina [Ávila] trouxe a sugestão. Pesquisamos várias referências sobre o texto. O elenco propunha a movimentação, discutíamos a temática de cada cena, eu rotocava e organizava. O [assistente de direção] Ton [Carbones] criou duas cenas. Foi um processo colaborativo. A dança é uma linguagem metafórica, simbólica, e não queríamos um espetáculo narrativo nem muito abstrato”, diz Ana.
O grupo surgiu em 1999 a partir de uma oficina de dança-teatro no Centro Cultural Vila Nogueira ligada ao projeto de atividades sócio-culturais da Cia. de Danças de Diadema, atualmente dirigida por Ana. “O Danceato, que trabalha bastante com pesquisa e interação entre linguagens, é independente. A intenção é rodarmos pra caramba [com a montagem] em 2007. Em função da criação, não dançamos neste ano”, afirma.
A ILHA DO JOSÉ. Direção geral de Ana Bottosso. Concepção coreográfica de Ana Bottosso e elenco. Com o Grupo Danceato. No Teatro Clara Nunes. Rua Graciosa, 300, Diadema, SP. Fone (11) 4056-3366. Dia 12/11, às 20h. Entrada franca.
Escrito por Mauro Fernando às 13h46
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SEXUS - A COMÉDIA

A quinta montagem dirigida por Roberto Lage neste ano estréia nesta quinta (9/11) no Teatro Shopping Frei Caneca, em São Paulo. Escrita por Ricardo Homuth, Sexus – A Comédia tem Neca Zarvos, além do próprio autor, no elenco: os dois formam um casal recém-separado.
A situação, porém, não está bem resolvida. Fotógrafo, ele mora no loft que pertence a ela – o espaço que ambos dividiam quando casados. Um dia ela reaparece com o pretexto de pegar um objeto. O desejo, então, é reaceso. Ela é atacada pela carência afetiva. Ele também vive um momento crítico – acabou de perder o pai – e apela para uma prática espiritual pouco convencional, embora seja conservador.
Os dois pertencem à classe média. “Ele é fotógrafo, e ela vem de uma família de algumas posses”, diz Lage. “Mas, do ponto de vista do texto, isso não tem importância.” A posição social mediana dos personagens, pois, não põe em jogo fatores como deslizes éticos ou máscaras sociais.
Trata-se de uma peça sobre relações de casal, sem moral da história. “Não há a preocupação de tentar discutir moralidade ou padrões de comportamento. Não há uma tese nem nada conceitual”, afirma o diretor. Em outras palavras: uma típica comédia comercial, realizada para agradar a paladares menos afeitos a espetáculos mais experimentais.
Lage tem se equilibrado neste ano entre um grande projeto pessoal (Ricardo III, produção do Ágora – Centro para Desenvolvimento Teatral, que ele dirige ao lado de Celso Frateschi) e convites, como é o caso de Sexus – A Comédia. Homuth trabalhou em Ricardo III. “A dedicação é a mesma”, garante o diretor.
SEXUS – A COMÉDIA. De Ricardo Homuth. Direção de Roberto Lage. Com Neca Zarvos e Ricardo Homuth. No Teatro Shopping Frei Caneca. Rua Frei Caneca, 569, 6º andar, São Paulo, SP. Fone (11) 3472-2229. Quintas, às 21h. R$ 30. Até 14/12.
Escrito por Mauro Fernando às 14h02
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QUEM CASA, QUER CASA (MARTINS PENA)
 Martins Pena
ATO ÚNICO
Sala com uma porta no fundo, duas à direita e duas à esquerda, uma mesa com o que é necessário para escrever-se, cadeiras, etc.
CENA I
PAULINA E FABIANA. PAULINA junto à porta da esquerda e FABIANA no meio da sala mostram-se enfurecidas.
PAULINA, batendo o pé – Hei-de mandar!... FABIANA, no mesmo – Não há-de mandar!... PAULINA, no mesmo – Hei-de e hei-de mandar!... FABIANA – Não há-de e não há-de mandar!... PAULINA – Eu lhe mostrarei. (Sai.) FABIANA – Ai, que estalo! Isto assim não vai longe... Duas senhoras a mandarem em uma casa... é o inferno! Duas senhoras? A senhora aqui sou eu; esta casa é de meu marido, e ela deve obedecer-me, porque é minha nora. Quer também dar ordens; isso veremos... PAULINA, aparecendo à porta – Hei-de mandar e hei-de mandar, tenho dito! (Sai.) FABIANA, arrepelando-se de raiva – Hum! Ora, eis aí está para que se casou meu filho, e trouxe a mulher para a minha casa. É isto constantemente. Não sabe o senhor meu filho que quem casa quer casa... Já não posso, não posso, não posso! (Batendo com o pé:) Um dia arrebento, e então veremos! (Tocam dentro rabeca...) Ai, que lá está o outro com a maldita rabeca... É o que se vê: casa-se meu filho e traz a mulher para minha casa... É uma desavergonhada, que não se pode aturar. Casa-se minha filha, e vem seu marido da mesma sorte morar comigo... É um preguiçoso, um indolente, que para nada serve. Depois que ouviu no teatro tocar rabeca, deu-lhe a mania para aí, e leva todo o santo dia – vum, vum, vim, vim! Já tenho a alma esfalfada. (Gritando para a direita:) Ó homem, não deixarás essa maldita sanfona? Nada! (Chamando:) Olaia! (Gritando:) Olaia!
Escrito por Mauro Fernando às 14h39
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CERTA ENTIDADE EM BUSCA DE OUTRA (QORPO-SANTO)
 Qorpo-Santo
ATO PRIMEIRO
BRÁS (entrando) – Quem diabo está nesta casa!? (Muito admirado.) Por um dos reposteiros vi aqui o Satanás com olhos adiante e pernas atrás! Depois vi Judas Iscariotes, que andava a trotes! Por uma janela, a Micaela abrindo a boca de gamela! Mas o meu rapaz, o meu Ferrabrás, o meu contimpina que de dia dorme e de noite maquina! Oh! Esse, nem por sombras me quer aparecer ou eu pude ver! Bárbaros! Assassinos! Traidores! Que tudo me roubam! Comem como burros, como cavalos, e depois querem que eu trabalhe para sustentá-los! Infames! Poluem a honra das famílias! Divorciam esposos para massacrá-los e a seu gosto fruirem seus bens! Escravizam em vez de libertarem... Hei de lançar por terra tão indigno governo! Ou hão de os governantes e governados terem direitos e deveres, ou nenhum governo durará no poder mais que treze meses! A Nação, cujo espírito será como o de um só homem, inutilizá-los-á, a todos embrutecendo ou a cabeça fendendo! Ainda não estão satisfeitos esses entes (a quem chamam governo porque ocupam as posições oficiais) com os milhões de desgraças que têm ocasionado!? Quererão bilhões, trilhões. Assassinos, traidores de sua Pátria! Até onde chegará a vossa perversidade? E até que ponto subirá também, ou a que extensão alcançará a vingança do Supremo Arquiteto do Universo!? Tremei, malvados! A trombeta final não tardará muito a tocar a voz: “Sejam queimados e reduzidos a cinzas!”. (Aparece Satanás.) BRÁS – Infeliz! Que fazes aqui? SATANÁS – Sou Satanás, rei dos infernos, encarregado pelos demônios para destruir os maus! BRÁS – Oh! Dai-me um abraço! Sois meu irmão, meu amigo e companheiro! Estais armado? SATANÁS – Sim. Trago as armas do poder e da vingança! BRÁS – Pois sabei que eu empunho a espada da justiça; o revólver do direito e o punhal da razão! Combinam-se bem com as tuas. Triunfaremos! SATANÁS – Sem dúvida. Com tais armas, jamais haverá poder que nos possa vencer! BRÁS – Muito bem! Muito bem! Venha de lá outro abraço! (Torna a abraçá-lo.)
Escrito por Mauro Fernando às 14h32
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