UM TREM CHAMADO DESEJO
Guto Muniz 
Fernanda Vianna e Chico Pelúcio em cena: homenagem ao teatro Nascido em 1952 em São Bernardo do Campo (SP), Luís Alberto de Abreu é um dos grandes dramaturgos brasileiros. Estreou profissionalmente em 1980 com Foi Bom, Meu Bem?, peça pela qual recebeu da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) o prêmio de autor revelação. Entre outros trabalhos premiados estão Bella Ciao (1982), O Livro de Jó (1993), Auto da Paixão e da Alegria (2002) e Borandá: Auto do Migrante (2003), além do roteiro do filme Os Narradores de Javé (2000), escrito com a cineasta Eliane Caffé. Aliado à comicidade e ao lirismo transcendentes, um profundo sentimento humanista marca sua obra, inspirada nas tradições populares e solidária aos marginalizados pela sociedade. Concluiu diversas peças sob processo colaborativo, pelo qual trabalha com o elenco e com o diretor na elaboração da dramaturgia. Dois exemplos: Auto da Paixão e da Alegria, encenada pela Fraternal Cia. de Arte e Malas-Artes sob a direção de Ednaldo Freire, e Um Trem Chamado Desejo (2000), encenada pelo Grupo Galpão sob a direção de Chico Pelúcio. A comédia musical Um Trem Chamado Desejo surgiu em livro em 2007 (lançado em conjunto por Autêntica Editora, Editora PUC Minas e Grupo Galpão), quando a trupe comemorava 25 anos de existência. A obra está disponível em www.estantevirtual.com.br com preços que variam entre R$ 8,00 e R$ 18,05. A peça, pela qual Abreu ganhou o Prêmio Bonsucesso de Artes Cênicas de melhor texto inédito, apresenta venturas e adversidades de uma companhia de teatro mineira da década de 1930, a Cia. Alcantil das Alterosas. Contrarregra, atores, produtor, ensaiador e coristas encontram-se em um impasse: o grupo vive crise financeira e criativa às vésperas de uma estreia. A produção fracassa, e há quem defenda a encenação de um clássico em oposição a quem proclama a necessidade de um musical. O produtor, em busca da sobrevivência comercial da trupe, resolve conduzir o elenco a uma aventura pelo cinema, que já começava a ganhar contornos de entretenimento de massa. Em meio a engraçadas discussões, nas quais os personagens misturam a vida particular à artística, transparece o cotidiano de uma companhia teatral.
Escrito por Mauro Fernando às 10h15
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ACORDES
Divulgação 
Celebração dionisíaca do fenômeno teatral O Teatro Oficina, fundado em 1958 por estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) - José Celso Martinez Corrêa, Renato Borghi, Amir Hadad e Carlos Queiroz Telles entre eles -, atravessou fase amadora antes de assumir o profissionalismo em 1961. Peças como Pequenos Burgueses (1963), O Rei da Vela (1967), Na Selva das Cidades (1967) e Os Sertões (em cinco partes, 2002-2006) marcaram a cena brasileira. Uma das propostas do grupo, concebida pelo diretor Zé Celso (único remanescente da trupe original) na virada da década de 1960 para a de 1970, é o te-ato, pelo qual busca-se a transformação da arte em vida e da vida em arte. A ideia é suprimir barreiras entre atores e espectadores - o que tende a resultar, com a participação do público, em espetáculos vibrantes, celebrações dionisíacas do fenômeno teatral. A companhia deixa em cartaz até hoje em sua sede, em São Paulo, o musical Acordes, inspirado em dois trabalhos do alemão Bertolt Brecht (1898-1956), um deles em parceria com o também alemão Paul Hindemith (1895-1963). A sinopse aponta: quatro aviadores pedem auxílio após acidente. A peça sugere que toda ajuda (seja solicitada ou oferecida), perante a violência social, deve ser rejeitada. A história é suporte para as sobreposições de significados que o diretor implanta em suas montagens. Há, por exemplo, cena em que o cifrão e a suástica surgem justapostos em telão. O teatro de Zé Celso não faz concessões ao gosto médio em sua jornada artística contra o pensamento neoliberal, o que o torna imprescindível nestes tempos. Acordes, como os outros trabalhos do Oficina, traz referências à trajetória do grupo e a Dioniso, cujo culto originou o teatro grego. Um dos momentos mais interessantes: uma réplica do 14-bis, com o qual Alberto Santos Dumont (1873-1932) voou em 1906, atravessa o palco-passarela do Oficina. A banda executa as músicas com intensidade, o que contribui para a atmosfera plena de vivacidade que o espetáculo oferta. A montagem é transmitida ao vivo em www.teatroficina.com.br/aovivo. ACORDES. Dramaturgia e direção de José Celso Martinez Corrêa. Com o Teatro Oficina Uzyna Uzona. No Teatro Oficina. Rua Jaceguai, 520, São Paulo, SP. Fone (11) 3106-2818. Hoje, às 14h30 e às 20h. R$ 20.
Escrito por Mauro Fernando às 08h09
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